13 outubro, 2006

Na Espinha do Dragão

"Era uma vez um dragão que vivia nas profundezas do oceano.
Por não poder suportar certa mágoa, abandonou o fundo do mar e dirigiu-se para a costa.
Chegando a um litoral comprido, junto a uma planície alagadiça, avistou uma linda serra verde-azulada.

Seduzido por aquela jóia que brilhava distante, como um longo degrau esmeralda coberto pelas nuvens, foi à terra. Queria ir lá, atravessar as montanhas e ver o que havia do outro lado.

Ainda que fosse vigoroso, não foi fácil transpor a serra. Ora escorregadio, ora encantador, o caminho serpenteava entre cachoeiras e despenhadeiros e o dragão avançava com dificuldade, arrastando seu imenso corpo por entre a mata.

Quando finalmente chegou ao topo, estava exaurido.

Tudo o que pôde ver antes de tombar desacordado foi outra serra, além do planalto, essa muito escura, um rio sinuoso, margeado por uma mata baixa, repleta de aves, e um céu de um azul doído, e era inverno.

Imediatamente caiu num sono profundo de exaustão, que ainda hoje não terminou.

Tudo isso se deu inumeráveis eras atrás.

Enquanto dormia, a criatura continuou a crescer, atingindo muitos quilômetros de comprimento.
Bosques se formaram sobre seu corpo, ervas e árvores cresceram sobre suas escamas, confundindo-o com a paisagem.

É sobre o corpo desse dragão e em torno dele que hoje se ergue e se estende nossa cidade.

Ainda que ele tenha sido coberto pela vegetação, que córregos e lagos tenham se formado sobre seu corpo, que prédios, ruas, viadutos e carros hoje o tenham desfigurado, ele vive.

A pé ou de bicicleta, em um ou outro lugar da cidade é possível observar sinais de sua anatomia."


Este texto foi retirado do Blog Na "Na Espinha do Dragão"

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