26 agosto, 2005

combustível caro muda a rotina de motoristas em diversos países em todo o Mundo

Combustível caro muda a rotina de motoristas em diversos países
Em todo o mundo, os motoristas vêm recorrendo a algumas medidas extremas para combater os preços altos do petróleo.
Os alemães estão abastecendo seus carros com óleo de aquecimento doméstico. Os poloneses cruzam a fronteira com a Ucrânia para comprar gasolina mais barata. Em um caso trágico, no Alabama, o proprietário de um posto de gasolina foi atropelado e morreu quando tentou impedir que um motorista saísse sem pagar pelo combustível.
Mas nem todos os consumidores são iguais quando se trata de preços da gasolina.
Na Europa, a gasolina já muito é mais cara do que nos Estados Unidos devido aos impostos mais altos usados para financiar projetos governamentais e para encorajar as pessoas a usar serviços de transporte coletivo.
Os consumidores pagam duas ou até três vezes mais que os norte-americanos pelo combustível. A desigualdade é agravada por salários freqüentemente inferiores à média norte-americana. Nos países em desenvolvimento, a situação é ainda mais difícil.
Os norte-americanos consideram que ir de carro onde e quando queiram é um direito básico, e dadas as deficiências no transporte público em boa parte do país, as autoridades dos Estados Unidos, no passado e no presente, evitaram impor custos mais altos de combustível aos seus contribuintes, sabendo que pagariam caro por isso nas eleições.
O governo também sabe que subsidiar os longos percursos que os americanos fazem em seus carros para chegar ao trabalho ou entregar produtos estimula a economia, o que permite que as receitas mais baixas com impostos sobre a gasolina sejam compensadas por arrecadação mais alta de impostos de renda e corporativos.
Na ponta oposta, os países europeus, com distâncias mais curtas e densidade populacional maior, têm interesse em cobrar mais das pessoas pelo direito a dirigir.
As economias européias dependem menos da cultura do automóvel para seu crescimento, e os impostos altos os ajudam a enfrentar o perene problema dos congestionamentos, bem como a cumprir os compromissos da região com a proteção ambiental.
Na Europa, impostos e taxas adicionais sobre os carros novos, uso de estradas e pedágios tornam ainda mais dispendioso se deslocar de carro. Na Noruega, por exemplo, um imposto de 100% sobre os carros zero duplica o que seria o preço básico de venda. Determinar até que ponto as medidas funcionam, no entanto, é questão bastante diferente.
"Nós aceitamos muita coisa", fiz Egil Otter, da Associação Automobilística Norueguesa, sobre o alto custo do transporte por automóvel, que inclui preços de 11 coroas (R$ 4,11) por litro de gasolina. "Quando os custos de uso do automóvel sobem, as pessoas não dirigem menos. Preferem reduzir seus gastos em outras áreas."
Com a alta do preço do petróleo, aumentaram os preços nas bombas, e os operadores de postos de gasolina estão atualizando suas tabelas de preços cada vez que o preço por barril muda. Na Holanda, um litro de gasolina custa o equivalente a R$ 3,44, ou US$ 1,42, mais do dobro do preço pago nos Estados Unidos.
Quase dois terços desse valor representam impostos e tarifas. Se as taxas fossem eliminadas, o litro de gasolina holandesa custaria menos de R$ 1,57, ou US$ 0,65.
Alemães, franceses, italianos, belgas, portugueses e britânicos pagam quase tanto por sua gasolina quanto os holandeses e uma vez mais os impostos respondem pela maior parte do preço.
Agravando o problema, os salários nesses países são quase sempre mais baixos do que nos Estados Unidos. Os prósperos suecos, por exemplo, têm renda per capita de 275 mil coroas, o equivalente a US$ 36 mil, ainda alguns milhares de dólares abaixo do ganho médio de um americano.
As coisas são ainda mais difíceis em outras partes do mundo.
No Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental, a maior parte das pessoas sobrevive com menos de US$ 1 (R$ 2,42) por dia -mais ou menos o preço de um litro de gasolina, com os impostos respondendo por um terço disso.
"Se o preço da gasolina se mantiver elevado, jamais terei dinheiro para me casar e ter filhos", disse Jean-Louis Pierre, 25, que ganha a vida embarcando a cada dia o maior número possível de passageiros em seu "tap-tap", uma picape que ele usa como lotação.
Na fronteira
Embora medidas severas da alfândega tenham reduzido o contrabando de gasolina da Ucrânia e Romênia para a Hungria, os húngaros que vivem perto dos dois países costumam cruzar as fronteiras para encher os tanques de seus carros com o combustível mais barato à venda do outro lado -como fazem os alemães que vivem perto da Polônia e os poloneses que vivem perto da Ucrânia.
"Eu vou cerca de três vezes por mês", disse Roman Grasse, motorista de táxi berlinense, sobre suas jornadas de 100 km até a cidade polonesa mais próxima, onde abastece seu carro.
Alguns motoristas ucranianos agora carregam latões de gasolina nos porta-malas de seus carros para vender na Polônia.
A polícia alemã começou a deter carros a diesel para verificar se não foram abastecidos com óleo de aquecimento doméstico -praticamente a mesma substância, mas tributada com alíquotas mais baixas.
No sudoeste da Suécia, a cidade de Trollhattan, que abriga uma fábrica da Saab, se tornou atração ainda maior para os donos de automóveis, porque uma guerra de preços entre postos reduziu o preço do combustível em 30%.
"A única coisa ruim são as filas de 30 ou 40 carros", disse o motorista Stig Andreasson ao jornal sueco "Expressen". "E quando você consegue chegar à bomba, às vezes a gasolina acabou."


Folha de S.Paulo – Dinheiro – 26/08/2005 – Pág, B-12


Seria muito mais fácil eles usarem suas bicicletas e os meios de transportes públicos....

20 agosto, 2005

Poluição em SP mata oito por dia



A poluição atmosférica mata indiretamente, em média, oito pessoas por dia na cidade de São Paulo. A exposição aos diversos poluentes emitidos também reduz a expectativa de vida dos habitantes: pesquisas indicam que o paulistano perde dois anos de vida por morar em um local poluído.

Apesar de assustadores, esses números já foram maiores --chegaram a 12 mortes diárias indiretamente causadas por poluentes e três anos de vida perdidos.

Os dados, baseados em diversos estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, mostram que ações como o Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) e o rodízio foram positivas para a melhoria da qualidade de vida na capital.

Mas, segundo o professor Paulo Saldiva, as conseqüências da poluição à saúde ainda são alarmantes e é preciso mais medidas para enfrentá-las. "Diferentemente do cigarro, a poluição do ar não pode ser evitada pelas pessoas."

Segundo ele, quem mais tem problema de saúde decorrente da inalação de poluentes são os idosos, que acabam sendo vítimas principalmente de pneumonia, infarto agudo do miocárdio e enfisema. Já as crianças, que vêm na seqüência na lista de mais afetadas, têm pneumonia e asma.

A pneumonia, inclusive, foi a terceira principal causa de morte na capital no ano passado. O número de casos da doença que resultaram em óbito aumentou 11% de 2003 a 2004, segundo levantamento da CEInfo (Coordenação de Epidemiologia e Informação), da Secretaria Municipal da Saúde.

"Mesmo as pessoas saudáveis sofrem os efeitos da poluição e ficam mais hipertensas nos dias poluídos", afirmou Saldiva.

Além das oito mortes diárias induzidas pela poluição, uma pesquisa do laboratório indica que há um aborto por dia na cidade, depois do quinto mês de gestação, em decorrência do problema. "O fluxo arterial na placenta se reduz nos dias de maior poluição."

O vilão

Para medir quem mais contribui com a emissão de gases de efeito estufa e listar medidas para reduzi-los, a Prefeitura de São Paulo pediu inventário ao Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) da UFRJ.

A pesquisa, apresentada ontem, mostra que o uso de energia é o principal responsável pela emissão de metano e dióxido de carbono, com 76%. O relatório, referente a 2003, é o segundo feito em âmbito municipal. O primeiro foi feito no Rio de Janeiro em 1998.

Nesse estudo, o vilão mais uma vez foi o transporte. A utilização de combustíveis fósseis representa 88,7% das emissões decorrentes do uso de energia --e a gasolina é o combustível que mais contribui para a poluição, com 35,7%.

"Agora, é necessário criar cenários com alternativas para mitigar as emissões e, depois, propor políticas públicas", disse a coordenadora-executiva do inventário, Carolina Dubeux. Ela sugere estudar a troca de combustível (usar o álcool em vez da gasolina) ou a ampliação do uso do metrô. "A diminuição da poluição depende de práticas do dia-a-dia", diz o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

Sua pasta iniciou, há um mês, a inspeção veicular dos ônibus do transporte público para minimizar a emissão. Dos 225 ônibus fiscalizados até agora, de seis viações, 14 tinham situação irregular.

Fonte:

AFRA BALAZINA
da Folha de S.Paulo